Por que a ICAB deve ter uma Pastoral Social Libertadora?
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Rosalvo Salgueiro e Dom Valdir Irineu Backmann |
(Este texto foi encaminhado aos bispos da Igreja Católica Apostólica Brasileira reunidos no Concílio realizado em julho de 2015.)
A razão de ser da Igreja é
continuar a missão que lhe foi dada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Não há como negar, a temática da justiça social está no âmago da
mensagem salvadora de Jesus de Nazaré, o Cristo, a quem seguimos e desejamos
ser fiéis.
“15 E disse-lhes: Ide por todo o mundo,
pregai o evangelho a toda criatura. 16 Quem crer e for batizado será salvo; mas
quem não crer será condenado. 17 E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu
nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; 18 Pegarão nas serpentes;
e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos
sobre os enfermos, e os curarão. 19 Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado,
foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. 20 E eles, tendo partido,
pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a
palavra com os sinais que se seguiram. Amém”. (Marcos
16: 15-20)
É muito importante que compreendamos
qual é a missão da Igreja e qual é o genuíno conteúdo do Evangelho, (boa
notícia) da qual é portadora, tendo a obrigação de anunciar a praticar por
ordem e em nome do seu próprio Mestre.
A Segurada Escritura é a
fonte segura de orientação para a ação da Igreja e é nela que vamos encontrar o
próprio Jesus de Nazaré explicando em detalhe este conteúdo;
“16 E, chegando a Nazaré, onde fora
criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga e
levantou-se para ler. 17 E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando
abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: 18 O Espírito do Senhor é
sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os
quebrantados do coração, 19 a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos
cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor.
20 E, cerrando o livro e tornando a dá-lo ao ministro, assentou-se; e os olhos
de todos na sinagoga estavam fitos nele.”
(Lucas 4: 16-20)
Tem a Igreja, portanto, em todo
seu corpo ministros e fiéis, a obrigação de vivenciar este ensinamento do
Mestre, e sempre que tiver alguma dúvida deve voltar à Sagrada Escritura para
balizar seu entendimento e sua ação, pois é nesta medida de fé e prática que
será julgada no fim dos tempos;
“31″ Quando o Filho do Homem vier em sua
glória, acompanhado de todos os anjos, então se assentará em seu trono
glorioso. 32 Todos os povos da terra serão reunidos diante dele, e ele separará
uns dos outros, assim como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. 33 E
colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. 34 Então o Rei
dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde benditos de meu Pai! Recebei como
herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! 35 Pois eu estava
com fome e me destes de comer; eu estava com sede e me destes de beber; eu era
estrangeiro e me recebestes em casa; 36 eu estava nu e me vestistes; eu estava
doente e cuidastes de mim; eu estava na prisão e fostes me visitar’. 37 Então
os justos lhe perguntarão: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos
de comer? Com sede e te demos de beber? 38 Quando foi que te vimos como
estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos? 39 Quando foi
que te vimos doente ou preso, e fomos te visitar? 40 Então o Rei lhes
responderá: ‘Em verdade eu vos digo, que todas as vezes que fizestes isso a um
dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizestes! 41 Depois o Rei dirá aos
que estiverem à sua esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos! Ide para o fogo
eterno, preparado para o diabo e para os seus anjos. 42 Pois eu estava com fome
e não me destes de comer; eu estava com sede e não me destes de beber; 43 eu
era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu estava nu e não me vestistes;
eu estava doente e na prisão e não fostes me visitar. 44 E responderão também
eles: ‘Senhor, quando foi que te vimos com fome, ou com sede, como estrangeiro,
ou nu, doente ou preso, e não te servimos? ’ 45m Então o Rei lhes responderá:
‘Em verdade eu vos digo, todas as vezes que não fizestes isso a um desses
pequeninos, foi a mim que não o fizestes! 46 Portanto, estes irão para o
castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna”. (Mateus 25: 31-46)
Muitos outros trechos
poderiam ser assumidos para amparar esta santa obrigação, mas não se pretende
aqui ficar justificando teologicamente ou aprofundar as citações bíblicas para
demonstrar a necessidade da criação de uma Pastoral Social, até porque todos os
senhores bispos são conhecedores das Sagradas Escrituras e cônscios da sua
missão.
Por outro lado também os
ensinamentos de Dom Carlos Duarte Costa, nosso santo fundador, principalmente
no Manifesto à Nação, deixam-nos na obrigação de estar no meio do povo,
principalmente dos mais pobres, tomando parte das suas alegrias e tristezas e
sendo não só depositário das suas esperanças, mas vivenciando suas angústias e
assumindo como próprias as suas revindicações.
Os Concílios da nossa
Igreja, têm repetidamente produzido documentos que reafirmam esse entendimento,
eis que fez constar em seu Estatuto que a ICAB tem como finalidade acessória,
suas ações sociais. (art.4 II) até mesmo já se produziu um “Credo Social” e
reafirmou por diversas vezes o Manifesto à Nação, inclusive publicando sua
releitura e reafirmação (Manifesto à Nação II) cujas primeiras palavras são:
“A Igreja Católica apostólica Brasileira
não pode ficar alheia às manifestações do seu povo que clama por justiça...”. E se
pergunta: “Mas, diante de tudo
isso, qual seria o papel pastoral da nossa Igreja?”.
No atual estágio de
consciência social da sociedade brasileira e mundial os compromissos com a
justiça social e ambiental são fatos que se pode notar com facilidade. As
organizações da sociedade civil e empresas industriais e comerciais esforçam-se
por demonstrar tal preocupação, pois esta tem sido mesmo uma exigência do
mercado. Ainda que por outras razões, louvamos e incentivamos este
comportamento.
A necessidade de uma
Pastoral Social se explica pela realidade atual da organização social, política
e administrativa tanto do governo brasileiro como da própria ICAB, pois hoje a
vida e a convivência das pessoas, entre as quais os nossos fiéis, não se
circunscreve à Paróquia ou à Diocese, assim não é raro que um mesmo fiel resida
numa paróquia ou diocese, trabalhe em outra, estude numa terceira e ainda tenha
outras atividades que transcendam os limites diocesanos e paroquiais.
O compromisso de atuação da
ICAB para a promoção da justiça social está explicitado no art. 5º do seu
Estatuto que o vincula direta e indissoluvelmente ao reconhecimento e ao
exercício da dignidade humana, sendo de especial clareza os parágrafos segundo
e quarto deste artigo que merecem ser aqui transcritos.
§ 2º A ICAB promoverá a solidariedade
humana, que começa no lar e acaba no grande lar que é o mundo, no qual todos
somos irmãos em CRISTO, sem
distinção de raça, casta, seita ou classe.
§ 4º Sendo a dignidade humana coisa sagrada a ICAB cooperará com as
autoridades do País, dentro dos princípios evangélicos, na distribuição da
assistência social.”.
Também o nosso Código
Eclesiástico, em seu artigo 46º menciona a formação e funcionamento das
Comissões Pastorais, sendo certo que as prevê no âmbito das Dioceses, porém
nada impede de que tais Pastorais existam em nível nacional.
Certamente muitas dioceses
da ICAB por seu clero ou fiéis já têm desenvolvido trabalhos sociais que em boa
medida colocam-na no fiel seguimento do mandato do Senhor.
Será uma acertada medida que
este Concílio aprove a formação e funcionamento de uma Pastoral Social da ICAB
em nível nacional que teria como função e responsabilidade colaborar com os
senhores bispos diocesanos e administradores apostólicos na articulação dos
trabalhos que já existem e ou incentivando o aparecimento de outros trabalhos e
que possam funcionar com a assistência e a identidade católica brasileira.
Uma pastoral social católica
brasileira deve ir muito além de práticas sociais e econômicas compensatórias,
deve antes de tudo buscar a emancipação dos empobrecidos do nosso povo, tal
qual determina Nosso Senhor Jesus Cristo no trecho já acima citado.“O Espírito do Senhor me ungiu para apregoar liberdade aos cativos, a dar
vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do
Senhor.” (Lucas 4: 19) Não para pregar a resignação diante das
injustiças sociais que são o fruto perverso do egoísmo e do pecado humano.
Assim, além de cumprir o
mandamento do SENHOR e atender seus próprios princípios, a criação de uma
Pastoral Social em âmbito nacional a ICAB estará dando um passo firme na
direção da construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária.
Rosalvo Salgueiro