'PT entrou no vício do poder', diz Leonardo Boff
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Leonardo Boff quer reformulação do partido
- André Coelho / Agência O Globo |
SÃO PAULO — Em reunião com representantes da Igreja Católica e de
movimentos sociais a convite do Instituto Lula, o teólogo Leonardo Boff
criticou a presidente Dilma Rousseff, a oposição e a imprensa, e disse
que o “PT entrou no vício do poder”. O teólogo só defendeu o próprio
Lula, que não compareceu ao encontro.
— O poder, para se manter, precisa sempre de mais poder. Ou ele vai
acumulando cada vez mais e se torna ditatorial, ou se alia a outros para
ser sempre poderoso. Acho que o PT entrou nesse vício de poder. E onde
há poder não há amor, desaparece a misericórdia — afirmou o teólogo.
Para cerca de cem pessoas, Boff — que não participou do encontro em
que Lula, semanas atrás, disse a religiosos que o PT “está abaixo do
volume morto” — afirmou que esse “vício do poder” não deveria continuar
sendo o caminho do PT. Ele afirmou ainda que há em curso uma articulação
dos três grandes jornais para derrubar a presidente.
— Acho que o caminho nosso implica uma espécie de ruptura
democrática, que passa pela convocação de uma Assembleia Constituinte,
de uma redefinição do projeto econômico. Eu acho que o (ministro da
Fazenda, Joaquim) Levy representa o grande capital mundial.
Boff
fez críticas específicas ao GLOBO e a colunistas do jornal, ao lembrar
que o jornal teve acesso a informações sobre reunião recente em que Lula
fazia críticas a Dilma. (”Eu trouxe a minha bengala aí, e se alguém
gravar leva uns bengalaços meus”).
Sobre o encontro que teve no fim do ano passado com a presidente
Dilma, quando, ao lado de Frei Betto, entregou uma carta com 16
demandas, Boff comentou sorrindo:
— Ela é gentil e etc., mas não faz nada do que a gente pediu.
Ainda sobre economia, o teólogo disse que o governo escolheu o
caminho da inclusão social pelo consumo, o que, na opinião dele,
resultou em uma transição incompleta.
Ele frisou que o PT precisa assumir que existe uma crise econômica no país, e criticou a maneira de o PSDB fazer oposição:
— As oposições estão se alinhando a uma nova estratégia, que vem do
Império, que é o estado de exceção. Isto é, já não vale democracia, leis
do Judiciário, vale tudo.
Como solução para enfrentar a crise, Boff propôs que o PT retorne às
origens e pediu que os movimentos populares ocupem os espaços para
discutir um novo modelo de país. Para ele, os movimentos populares e o
PT devem se inspirar nas falas do Papa Francisco:
— Temos que ocupar as praças. A direita está ocupando as ruas para bater panelas vazias. Eles nem sabem onde está a cozinha.
A Lava-Jato também foi alvo de críticas do teólogo. Boff afirmou que
os delatores se “parecem com heróis, mas são bandidos”. Disse também que
o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações, “mais parece
mouro”.
por Julianna Granjeia
por Julianna Granjeia