Esquivel age contra o negacionismo na Argentina
SERPAJ-Argentina se manifesta contra negacionistas que destruíram homenagem à Osvaldo Bayer, autor de "Patagônia Rebelde"
DA REDAÇÃO, 28/03/2025, São Paulo, SP
O DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) removeu nesta semana a estátua em homenagem ao escritor e historiador Osvaldo Bayer, autor do livro "A Patagônia Rebelde", que ficava na entrada de Rio Gallegos, na província de Santa Cruz, na Argentina.
O Serviço de Paz e Justiça, SERPAJ, repudiou veementemente a destruição da escultura, sublinhando a responsabilidade do governo liberal chefiado por Javier Milei por meio da nota reproduzida abaixo:
"Aqueles que tiveram a sorte de conhecer Don Osvaldo Bayer pessoalmente não pudemos acreditar no que estávamos vendo. Foi demolido um monumento memorial, para além de sua pessoa, de sua militância empenhada em busca de uma revisão histórica que contemple a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e dos povos indígenas.
Esta decisão política de atacar um símbolo da memória do povo de Santa Cruz, respeitado por toda a sociedade argentina, constitui um ato negacionista condenável e violento ao qual o governo liberal nos habituou.
Osvaldo Bayer representa muitas coisas para grande parte da população. É a memória histórica, o pensamento crítico, a conduta ética e a coragem de quem só tinha um caminho a seguir: o de lutar por justiça para os mais vulneráveis e para quem tem lutado pelos seus direitos.
Este fato é mais um dos muitos que tentam nos silenciar e nos fazer baixar os braços, mas tal como a recente marcha de 24 de Março que foi tão massiva e que enfatizou a continuação dos genocídios e desaparecimentos, não o conseguirão.
Mais do que nunca continuaremos com o legado que Don Osvaldo nos deixou, que é o nosso compromisso com a Memória, a Verdade e a Justiça."
Retroescavadeira da Vialidad Nacional remove homenagem ao escritor que documentou assassinatos de trabalhadores durante a ditadura dos anos 20. Crédito: Governo da Província de Santa Cruz
A estátua representava um marco para o Dia Nacional da Memória e da Verdade, inaugurada em 24 de março de 2023. Na ocasião, a então governadora Alicia Kirchner, e Esteban Bayer, filho de Osvaldo, estavam presentes ao lado de familiares de pessoas desaparecidas durante a ditadura. O escritor e jornalista documentou os fuzilamentos de 1.500 trabalhadores cometidos pelo Exército Argentino em 1921 e 1922, durante a greve contra os pecuaristas.
O site de notícias El Diario Nuevo Día ressaltou que "a limpeza da doutrinação kirchnerista avança no país, e dessa vez pegou um símbolo da narrativa imposta por anos. O DNIT tirou a estátua do Osvaldo Bayer, uma estrutura que não era só uma homenagem, mas também tinha uma placa com a expressão "Bem-vindx", mostrando a linguagem inclusiva do kirchnerismo".
Imagem do monumento construído em prol da memória dos trabalhadores da "Patagônia Rebelde". Crédito: Gov. de Santa Cruz
Ana Bayer, filha do autor, também expressou seu repúdio postando um vídeo. Entre as manifestações contrárias a este ato, destaca-se o autor da homenagem, Miguel Jerónimo Villalba. “Vamos reconstruir a obra com mais amor e dedicação e a história desses trabalhadores continuará sendo um só grito: LIBERTA!!!”, afirma o escultor em suas redes sociais.
A obra foi devolvida ao governo provincial e está sob os cuidados do Centro Cultural Santa Cruz. "Apresentamos a documentação à Vialidad Nacional e solicitamos que entregassem a obra ao governo provincial, uma vez que foi encomendada pela Secretaria dos Direitos Humanos. Vale salientar que muito rapidamente facilitaram a entrega do monumento que agora está sob proteção deste Centro Cultural até que seja definido o seu restauro e a nova localização", disse Adriel Ramos, secretário de Cultura provincial, em contato com o periódico argentino La Nacion.
"Convocamos o artista autor da obra e vamos avançar na sua restauração, depois o governador decidirá onde será o novo local (da instalação)”, explicou Ramos. Segundo testemunhas do transporte, o monumento metálico foi endireitado – havia sido torcido durante a demolição – mas ainda precisa ser definido o que precisa para ser totalmente restaurado.
A gestão provincial, chefiado pelo petroleiro Claudio Vidal, que possui um bom diálogo com a gestão de Javier Milei, declarou oficialmente que “A homenagem à Bayer ficou como um símbolo da memória histórica e da luta pelos direitos humanos na região. Sua pesquisa sobre a Patagônia Rebelde e as Greves Patagônicas de 1920-1921 foi fundamental para tornar visível uma das etapas mais duras da história argentina e do movimento operário”.