Adolfo Perez Esquivel denuncia: “A Pátria está em perigo”

 

Adolfo Perez Esquivel, 93, discursa em Buenos Aires. Crédito: arquivo pessoal

Adolfo Perez Esquivel, premiado com o Nobel da Paz em 1980, publicou por meio do SERPAJ (Serviço de Paz e Justiça) - organização reconhecida com o Prêmio “Mensageiro da Paz” pelas Nações Unidas e “Educação para a Paz” pela UNESCO – uma carta com duras críticas ao atual presidente da Argentina, Javier Milei.

Aos 93 anos, em Buenos Aires, ele redigiu um texto de alerta para a Democracia argentina. De acordo com Esquivel, Milei governa por decretos, apagando a memória de seu povo. Afirma ainda, que o mandatário reprime e retira recursos financeiros de iniciativas fundamentais para a garantia da Justiça Social e dos Direitos Humanos no país. Veja na íntegra a tradução da Revista Centelha do texto publicado pelo fundador do SERPAJ:

 

A Pátria em perigo: ataques à memória, aos Direitos Humanos e à Democracia

 

Por Adolfo Perez Esquivel

A Pátria está em perigo de dissolução e em retrocesso da memória e valores do povo em sua luta pela vigência dos Direitos humanos e pela construção democrática.

O governo “antipátria” de Milei avança em sua tentativa de apagar a memória histórica: fecha arquivos, restringe as visitas à ex-ESMA (*antiga Escola Superior de Mecânica da Armada para estudantes e atual Espaço Memorial dos Direitos Humanos), pesquisadores e público em geral, demite pessoal e corta fundos para obstruir o acesso à verdade. Sua política é um ataque contra os 30.000 desaparecidos e assassinados pela ditadura militar (1976-1983), é contra os julgamentos por crimes contra a humanidade e a favor de beneficiar os repressores, enquanto ele lança uma campanha de perseguição contra os órgãos de direitos humanos.

 Atua com total impunidade, apoiado por um judiciário cúmplice e um Congresso Nacional que renunciou ao seu mandato, endossando governar por DNU (Decretos de Necessidade e Urgência) para avassalarem os direitos fundamentais do povo. Põe em risco a soberania nacional, o território, os recursos naturais e o Estado de direito, ao desmantelar instituições-chave como o INTA (*Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária), o INTI (*Instituto Nacional de Tecnologia Industrial) e o CONICET (*Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas) com o claro objetivo de privatizar terras e patrimônio público.

 Ele tem interesse em fechar e encerrar o financiamento dos centros de investigação científica e cultural como o CONICET- INCA -, quer fechar o Banco de dados Genéticos (criado pelas avós da Praça de Maio para crianças sequestradas pela ditadura militar).

Deixa de investir na agricultura familiar e indígena, ataca as PMEs (*Pequenas e Médias Empresas) e pequenos produtores, destrói empregos na terra do fogo. Entrega o norte do país a mineradoras extrativistas, expulsando comunidades originárias e violando seus direitos.

Vivemos uma ditadura encoberta: repressão brutal a aposentados no Congresso; ataque à saúde demissões no hospital Garrahan, colocando milhares de crianças em risco.

Navio na rua

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Funcionários do Hospital Garrahan, o principal centro pediátrico da Argentina, foram demitidos após greve reclamando seus direitos trabalhistas e melhores salários.  Crédito: Digital AV Magazine
   

 Nem sempre o legal é justo, nem o justo é legal. O governo, com sua política de crueldade, abusa poder para submeter os mais vulneráveis, colocando em Risco os Direitos Humanos e as liberdades democráticas. A ministra da (in)Segurança Patricia Bullrich procura domesticar e silenciar os protestos, mas a resistência do povo cresce frente a este governo antipátria e entreguista.

 

*notas da redação.