Conselho da Paz recusa cerimônia diante de um Nobel controverso

 Marina Corina Machado dedica o prêmio para o presidente dos USA, Donald Trump. Após ser duramente criticada em todo o mundo,  inclusive por Adolfo Perez Esquivel, também Prêmio Nobel da Paz, ela muda o discurso e diz que "a honraria pertence ao povo venezuelano".


Com informações da Agencia Reuters, Opera Mundi e Brasil de Fato


Em 2023, na cidade de Oslo, Noruega, a população carregou tochas durante a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da paz. Foto: Gettyimages.ru / Sergei Gapon/Anadolu

Na sexta-feira, 24 de outubro, o Conselho Norueguês da Paz anunciou uma decisão incomum: pela primeira vez em muitos anos, não haverá procissão de tochas para celebrar o vencedor do Prêmio Nobel da Paz. O gesto simbólico, que costuma iluminar as ruas de Oslo, foi substituído por um comunicado sóbrio — e carregado de significado.

A instituição informou que não organizará a cerimônia tradicional destinada à laureada de 2025, María Corina Machado, líder da oposição venezuelana e figura marcada por denúncias de envolvimento em tentativas de golpe. Segundo o documento oficial, a decisão foi tomada “após um rigoroso processo de consulta entre nossas 17 organizações-membro”.

Embora o texto não cite o nome da premiada, a motivação é clara: o Conselho considera que a escolha do Comitê Nobel não reflete os valores do movimento pacifista norueguês.

Temos grande respeito pelo Comitê Nobel e pela instituição do Prêmio da Paz”, declarou Eline Lorentzen, presidente do Conselho, “mas precisamos permanecer fiéis aos princípios que nos guiam e ao ideal de paz que representamos. Foi uma decisão difícil, mas necessária.”

Lorentzen afirmou ainda que o Conselho continuará atuando pela paz e pelo desarmamento “por meio do diálogo e de métodos não violentos”, e expressou o desejo de que “futuros prêmios da paz possam refletir novamente esses valores”.


Rosalvo Salgueiro, um dos coordenadores nacionais do Servico Paz e Justiça (SERPAJ-BRASIL) e do Movimento Terra de Deus, Terra de Todos, apoia a decisão do Conselho Norueguês de Paz e explica que Marina perde uma grande oportunidade. "Corina Machado não propõe a paz, ela quer guerra! A Corina está perdendo uma excelente oportunidade de ‘pós prêmio’ se tornar uma verdadeira construtora de Paz! Penso que, no mundo atual, existem muitas pessoas que mereceriam essa distinção, não apenas para ostentá-la, mas para usar como ferramenta, assim como a jovem Greta Thunberg”, afirmou. Greta foi capturada e torturada em solo palestino ao buscar ajuda humanitária para a população massacrada por Israel na Faixa de Gaza. Foto: Revista Centelha.

Uma premiada sob controvérsia

María Corina Machado, que há duas décadas ocupa espaço central no cenário político venezuelano, foi anunciada vencedora do Nobel da Paz em 10 de outubro, sob a justificativa de ser um “símbolo da luta democrática”. O Comitê Norueguês destacou seu “trabalho incansável pela promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano” e sua “busca por uma transição justa e pacífica para a democracia”.

Entretanto, a escolha dividiu opiniões e despertou reações em todo o mundo. Machado é reconhecida por seu alinhamento com Washington e pela defesa aberta de uma intervenção norte-americana na Venezuela. Em sua trajetória, participou de momentos-chave da instabilidade política do país: o golpe de 2002 contra Hugo Chávez, as tentativas de derrubar Nicolás Maduro em 2019 — ao lado de Juan Guaidó — e as ações que questionaram a legitimidade das eleições de 2024. Inclusive, apoiou o regime israelense na invasão e massacre palestino.

Para muitos analistas, a decisão do Comitê Nobel carrega um peso político explícito. A própria Casa Branca celebrou o prêmio, e a deputada cassada não escondeu o teor simbólico de sua vitória.

É uma honra”, escreveu nas redes sociais, “receber este reconhecimento pelos esforços que estamos fazendo na Venezuela. Este prêmio pertence ao povo venezuelano, aos milhões que arriscam tudo em nome da liberdade e da paz.”

Entre a paz e a política

As agressões sofridas pela ativista pelos direitos humanos, Greta Thunberg, foram amplamente divulgadas no mundo todo. Foto: reprodução Yotube/CNN Brasil

"Dessa forma, até mesmo Donald Trump vem dizendo que encerrou o genocídio palestino com uma ordem de cessar-fogo! Ele não pacificou nada, na verdade, foi quem forneceu as armas para Israel dizimar a população e o território", finalizou Rosalvo Salgueiro.

A recusa do Conselho Norueguês da Paz em participar das homenagens não apenas expõe a tensão entre ética e diplomacia, mas também reacende um debate antigo: até que ponto o Prêmio Nobel da Paz é imune às forças políticas que tentam moldar sua narrativa? Em Oslo, o fogo das tochas ficará apagado este ano. Mas talvez, no silêncio das ruas, ressoe mais forte a pergunta sobre o verdadeiro significado da palavra “paz”.