terça-feira, 21 de novembro de 2023

Em reuniões de demanda, Rosalvo Salgueiro defende Palestina

Foto: Engin Akyurt/Pexels

No domingo passado (12), o empreendimento Fama, em Embu das Artes (SP), sediou reuniões entre o Movimento Terra de Deus, terra de todos e os futuros moradores do condomínio. O encontro serviu primeiramente para informar as famílias sobre os andamentos das obras.

Assim como aconteceu na semana anterior na sede do Movimento, foram necessárias duas sessões de conversas para que todos pudessem participar. Afinal, somando as unidades de Embu das Artes, Bresser e Forte do Rio Branco, serão atendidas cerca de 3 mil famílias. Os dois últimos empreendimentos ficam na capital paulista.

Apesar de ser um evento para abordar questões na esfera pessoal dos presentes, reuniões desse tipo podem e devem ser usadas para discutir temas maiores. Com a guerra entre Israel e Faixa de Gaza passando de um mês de duração, o assunto é recorrente e relevante. Assim, uma bandeira palestina adornou o cenário da reunião.

Rosalvo Salgueiro (à esq.) fala aos presentes em reunião

Argumento de autoridade

Rosalvo Salgueiro fez falas contundentes sobre o assunto durante a reunião. Ele é professor universitário de Teologia, com especialização em Antigo Testamento e, como o fundo religioso do conflito é inescapável, a visão de um estudioso do assunto é valiosa. “O Israel bíblico não tem nada a ver com o Israel de hoje”, argumenta Salgueiro. “Os israelenses são descendentes de várias etnias brancas europeias, diferente do povo hebreu que habitava o território originalmente.”

Além da faceta religiosa, Rosalvo também colabora na frente jurídica, pois é Mestre em Direito Penal Internacional pela Universidade de Granada (Espanha). Pela sua análise, Israel comete “sem dúvida” crime de genocídio, crime contra a humanidade e crime de guerra. “Israel procura acabar com a população palestina, uma vez que o estado em si praticamente já acabou”, relata.


Historicamente, a criação do estado de Israel depois da Segunda Guerra Mundial não fazia muito sentido, porque os hebreus tinham deixado a região milênios atrás. No entanto, passados mais de sete décadas, não é possível reverter o processo. Com tudo isso em mente, a defesa de Rosalvo Salgueiro é que se restabeleça o que foi acordado na Resolução 3236 da ONU. Assim, Israel precisaria devolver aos palestinos todos os territórios tomados na Guerra dos Sete Dias

EUA: o agente atrapalhador

A principal preocupação acerca do atual conflito é que se espalhe para outros países. A grande mídia alerta para as desavenças que estão ocorrendo na fronteira entre Israel e Líbano, mas pouco se fala na atuação estadunidense para piorar a situação. Recentemente, o exército dos EUA realizou bombardeiros na Síria, o que aumenta a tensão bélica.

Além da participação com bombas, os Estados Unidos também colaboram para o acirramento das diferenças na esfera diplomática. Enquanto presidia o Conselho de Segurança da ONU, o Brasil conseguiu costurar um acordo que previa um cessar-fogo na região. Infelizmente, a proposta não foi adiante apenas por causa do veto estadunidense.

Com a China na presidência, houve uma resolução que não passou pelo veto dos Estados Unidos. No entanto, o estado de Israel se nega a cumprir o que foi decidido pelo colegiado internacional.


quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Perfil: Marianne Spiller (ABAI)

Marianne posa para foto com Eloy Jacintho, coordenador da Tekoa do Território sagrado Retomada em Piraquara  

Sem semente, não tem civilização.” Com essa frase forte, Marianne Spiller defende sua atuação social à frente da ABAI, uma entidade com ações diversificadas para apoiar a agricultura familiar. Recentemente, no começo de outubro, a ONG organizou a décima edição da Festa da Semente e dos Guardiões e Guardiãs da Biodiversidade na cidade de Mandirituba (PR).

O evento é um ponto de encontro de produtores rurais onde podem realizar intercâmbio de sementes crioulas – assim são chamadas as sementes em seu estado natural, sem agrotóxico ou manipulação genética. A troca delas é cada vez mais relevante, pois empresas gigantes, que através de fusões entre si aumentaram o seu poder, como Bayer com a Monsanto, Syngenta fusionada com uma empresa chinesa, Controla e BASF. Elas dominam o mercado de sementes, comercializando matrizes inférteis para manter seus lucros. Quem usa as sementes dessas gigantes não consegue usar parte da produção para garantir a safra seguinte. Sem as sementes crioulas, o produtor fica refém dessas empresas.

Há mais de 50 anos no Brasil, Marianne deixou para trás a Suíça para lutar contra injustiças sociais. Foi no interior do Paraná, ao lado dos camponeses para levar desenvolvimento para o campo, que ela achou seu lar.

Inspiração, pesquisa e trocas

Sobre a Festa, tudo começou em 2012, quando a Comissão Pastoral da Terra (CPT) realizou a Romaria da Terra no Paraná. Depois desse acontecimento, Marianne foi instigada a perpetuar a prática. Para isso, saiu a campo para pesquisar outros eventos do tipo, alguns dentro do estado do Paraná, outros mais distantes, como Sementes da Paixão, na Paraíba. 

Nesses dez anos de celebrações, a Festa de Semente cresceu. É verdade que bem na primeira edição caiu uma chuvarada que resultou em uma visitação menor. No entanto, agora a fama do evento atrai um público mais plural. Com a presença de representantes de povos indígenas e de quilombolas, mais variações de sementes e conhecimentos são trocados.

“A gente respeita o lado sagrado da semente”, diz Marianne. A ABAI tem um cuidado especial com uma semente crioula de milho tupi, distribuindo-a para o Brasil inteiro. Essa variedade de milho, chamado de Avaxi ete ("milho verdadeiro", em guarani), é sagrado para os povos Guarani e tem grãos de um belo colorido. Os indígenas usam esse milho tanto na alimentação quanto em rituais.

Em ritmo de semear

Nestes dez anos passados, as Festas de Semente se multiplicaram e cresceram muito no estado do Paraná, alcançando hoje no total um público de aproximadamente 30.000 pessoas. Além do intercâmbio de sementes, o evento trazia muitas atrações, como a apresentação da banda Filhos da Mãe Terra

O grupo executa músicas autorais que tratam de temas do campo e da agricultura familiar. As apresentações da banda acontecem em outros encontros do tipo, como o Congresso Nacional de Agroecologia, no Rio de Janeiro. “Às vezes, a arte é uma comunicação melhor do que a fala”, argumenta Spiller.

Trabalho para o ano todo

Concluídas as celebrações, antes de preparar a próxima edição, Marianne está com a agenda movimentada. Para registrar seus feitos perante as autoridades, a equipe da ABAI entregou um relatório sobre esta festa para o Ministério Público do Paraná e para vários deputados estaduais paranaenses.

Além das funções diretamente ligadas à festa, como a catalogação de sementes crioulas, há muito a ser feito no dia a dia da ABAI. A entidade mantém um centro socioambiental, que atende a 110 crianças de 4 a 12 anos oferecendo ensino de agroecologia no turno da manhã. De tarde, é a vez dos jovens. Para completar, há ações de suporte para que os adultos superem os males causados pelo alcoolismo e consumo de drogas.

E, até outubro de 2024, Marianne e a ABAI seguirão nessa toada para organizar mais uma edição da Festa de Semente. Para os futuros frequentadores, é aconselhável já reservar um espaço na agenda para participar dessa profunda troca.


quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Rosalvo Salgueiro é reeleito para Conselho Gestor do FPHIS

Rosalvo Salgueiro (esq.) e José Valdecir Evangelista durante sessão de eleição do CGFHIS

Na manhã da última terça (7) aconteceram eleições importantes para o tema habitação no estado de São Paulo. Movimentos populares com atuação regional enviaram seus representantes na sede da CDHU, no centro da capital, para a escolha dos integrantes do Conselho Estadual da Habitação (CEH) e do Conselho Gestor do Fundo Paulista (CGFPHIS) de Habitação e Interesse Social. As eleições são para cargos no triênio 2024-2027.

A primeira escolha foi de Rosalvo Salgueiro, coordenador geral do Movimento Terra de Deus Terra  Todos, como titular no CGFPHIS. Para a suplência, os votantes aprovaram o nome de José Valdecir Evangelista, da Federação de Luta das Associações e Movimentos de Moradia do Estado de São Paulo (FLAMMESP). Na gestão atual, Rosalvo já atua como conselheiro na instituição. Como só há a possibilidade de apenas uma reeleição para o cargo, ao final de 2027, os movimentos sociais precisarão eleger outro nome para o posto.

Em seguida, foram escolhidos os nomes para para compor o CEH. São eles: Antônio Pedro de Souza, conhecido como Tonhão (MDM); João Bosco Costa (Associação dos Moradores do Jardim Redil e Adjacências); Maria Bezerra de Menezes, conhecida como Socorro (Associação dos Moradores da Favela do Jardim Helena); e William Eilert (FLAMMESP). Os suplentes eleitos são Carlos Antônio Matos, conhecido como Tony (União dos Moradores e amigos do Jardim Antártica);  Ivanete Araújo (ACMLJ); Roberto Santos (Associação de Luta por Moradia Vermelho para Lutar); e Vani Poleti (MOHAS).

Vitória no consenso

As votações começaram mais tarde do que o horário estipulado inicialmente porque os ativistas estavam negociando a formação das chapas únicas, posteriormente eleitas de forma unânime. “É o acordo possível”, disse Rosalvo Salgueiro quando apresentou os nomes à mesa diretora depois de intensa negociação. “É uma grande vitória conseguir unir as vozes de movimentos de atuação tão diversa”, relatou posteriormente à Revista Centelha.

O consenso também foi elogiado pelo secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SDUH) Marcelo Branco. “No Conselho Estadual da Habitação, se desenham as políticas habitacionais do Estado”, disse o secretário. “Esperamos que haja a voz de todos os presentes aqui.”

Annamaria Braia, secretária executiva da Subsecretaria de Habitação Social, coordenou as atividades e destacou a relevância do FPHIS. “Ele cuida da aplicação do orçamento do Estado, ou seja, é um conselho executivo que discute os programas e a aplicação dos recursos”, explicou. “Ao final do ano, existe uma prestação de contas para verificar se o que foi combinado foi realmente aplicado.”

Consenso ruidoso

Apesar das eleições de forma unânime, os presentes na sessão perceberam que há divergências entre os representantes do movimentos sociais. “As diferenças são parte da democracia e esperadas dentro de um campo tão vasto de atuação”, ressaltou Rosalvo Salgueiro.

Durante as votações, houve quem chamou o acordo costurado pelos movimentos como um “jogo de cartas marcadas”. Outro momento de distensão se deu quando uma das suplentes fazia uma saudação a todos os presentes usando o pronome neutro todes. Após acusação de usar termos que não existiriam, a ativista fez questão de salientar que o acolhimento da diversidade sexual não apenas existe como precisa ser reforçado sempre que possível. Em seguida, sua fala foi acolhida pela maioria dos presentes, em demonstração de qual o norte das lutas sociais nesse tema.


terça-feira, 31 de outubro de 2023

MST doa 2 toneladas de alimento para Gaza

Foto: Pixabay

Enquanto a diplomacia brasileira tenta viabilizar uma forma de resgatar as dezenas de brasileiros ainda isolados na Faixa de Gaza durante o processo de retaliação de Israel contra a população civil, outras medidas de ajuda estão em ação. Uma delas é do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que enviou na última segunda-feira (30) cerca de duas toneladas de alimentos para a região. 

A carga continha arroz, leite em pó e farinha de milho. A entrega foi possível com o uso de avião da Força Aérea Brasileira (FAB), em ação orquestrada pelo Ministério das Relações Exteriores. Trata-se de um primeiro passo, pois o Movimento tem planos de mandar cem toneladas de alimentos para os palestinos,

“As pessoas que não estão morrendo dos bombardeios, estão sob profundo risco de morrer de fome, de falta de água potável, de falta de alimentação,” assinala Cassia Bechara, dirigente nacional do MST.


quinta-feira, 26 de outubro de 2023

MTST oferece curso online sobre trabalho de base


O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) oferece gratuitamente o curso Introdução ao Trabalho de Base para ajudar ativistas a se organizarem politicamente. As inscrições podem ser feitas pelo site da Escola de Trabalho de Base.

Para moradores de São Paulo, haverá atividades presenciais em ocupações geridas pelo Movimento. Para acompanhar tais ações, é preciso levar prato, caneca, talher e elementos de higiene. Se o aluno residir em outro local, as aulas são online

O curso começa na terça (31) às 19h e não haverá gravação das aulas. Portanto, é preciso aproveitar a chance! No total, são sete aulas. Entre os temas discutidos estão: organização popular, religião, urbanismo, racismo, machismo, e demais tópicos relacionados. 


terça-feira, 24 de outubro de 2023

MNLM inicia ocupação de prédio público em Brasília

Foto: Reprodução

Na madrugada de segunda-feira (23), o Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) fundou a Ocupação Leidiane em Brasília. Os ativistas ocuparam um prédio de posse da União para pressionar por agilidade no processo de transformar o imóvel abandonado em moradia popular.

A ação envolveu 80 famílias de trabalhadores oprimidos pelos altos aluguéis e pelas condições precárias do transporte público da capital federal. É sabido que Brasília é uma das cidades brasileiras mais dependentes de carros particulares em seu planejamento viário.

“Esperamos que o Ministério das Cidades e a Secretária do Patrimônio da União liderem essa  importante iniciativa de destinar estes imóveis para moradia popular”, declarou o Movimento em sua página oficial no Facebook.

 

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Perfil: Tita Carneiro (Afetivas)

Pesquisar e atuar

Normalmente, a gente pensa em mobilização como forma de fazer a sociedade se movimentar. No caso de Tita Carneiro, a mobilização fez ela realizar deslocamentos de fato. A paraibana começou sua atuação política no começo da década passada em João Pessoa (PB), quando entrou para a Marcha Mundial das Mulheres

Psicóloga de formação, sua pesquisa de doutorado estava alinhada com sua militância, ao estudar movimentos encabeçados e geridos por mulheres. Foi com objetivos acadêmicos que ela parou no bairro de Peixinhos, em Olinda (PE). Foi nesse local que participou da fundação do Afetivas – mais detalhes sobre essa atuação serão explicados adiante. 

Casa e comida

Ainda na Paraíba, a mobilização de Tita foi incrementada com a participação da organização política Consulta Popular, da qual ainda faz parte. Nos últimos três anos, ela acompanhou uma Ocupação na cidade de Cabo de Santo Agostinho. Nesse momento, as unidades habitacionais abandonadas que foram ocupadas por mais de 200 famílias carentes durante a pandemia estão em processo de devolução, que deve ser concluído no próximo mês.

Já a história do Afetivas começa em maio de 2022, com a união de dez mulheres do bairro de Peixinhos. Elas procuravam encontrar uma saída para os apuros econômicos que a pandemia impôs ao povo pobre. 

Foi assim que decidiram atuar no ramo da alimentação, sem deixar de lado a faceta política. Afinal, elas são ligadas ao MTD-PE (Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos), e alimentação é um direito básico – assim como moradia.

Afetivas

O objetivo primeiro do movimento Afetivas era encontrar um local onde as mulheres poderiam produzir marmitas. Além da geração de renda, a oferta de um cardápio nutritivo é um eixo norteador das ações do coletivo. O projeto de Cozinhas Solidárias do MTST está muito alinhado aos valores defendidos por Afetivas.

As mulheres do Afetivas começaram de fato suas atividades com uma demanda gigantesca no final de maio de 2022. Por causa de fortes chuvas na região, havia um considerável contingente de desabrigados que precisavam de alimentação diariamente. Com o intermédio de uma ONG estadunidense, as Afetivas produziam 500 marmitas todos os dias!

Atualmente, o Afetivas trabalha com encomenda de marmitas, normalmente a pedido de outros movimentos sociais. Portanto, é lógico dizer que Afetivas alimenta muitas lutas importantes em Olinda e na região metropolitana de Recife. 

Empreendedorismo afetivo

No entanto, o plano delas é ainda maior. Afetivas busca ter um ponto de venda de marmitas direto para o público, para que possam funcionar com regularidade. Nesse sentido, esperam que seus projetos sejam aprovados para aporte de fundos que darão o pontapé inicial em uma jornada muito saborosa e nutritiva. A esperança é que, agora que as cozinhas solidárias se encaminham para serem uma política pública federal, esse sonho vire realidade muito em breve.

A vertente empreendedora do Afetivas já é visível e audível. Frequentemente, o movimento organiza o evento Afetivas na Praça. De tempos em tempos, a Praça da Caixa D’Água é ocupada com cultura e empreendedorismo. É assim que Afetivas oferece ao público apresentações musicais animadas, além de uma feira em que mulheres podem gerar renda comercializando suas produções de diversos tipos.

Alimentando sonhos e projetos

Atualmente, Tita Carneiro tem como objeto de estudo a ocupação feminina na política institucional. Com seu conhecimento aprofundado tanto do social quanto do subjetivo, ela enxerga suas frentes de atuação essenciais para a construção de um futuro mais justo.

O famoso trabalho de base só é possível de barriga cheia e fica muito mais fácil quando as pessoas têm um teto assegurado. É dessa forma que ela se divide em diversas atividades, tanto na teoria acadêmica quanto na prática militante.